Gastronomia

SABORES REGIONAIS

O facto de Peso da Régua ser considerado uma encruzilhada de rotas e, por conseguinte, de pessoas, traduziu-se na gastronomia. Culturas diferentes num mesmo território conduz à partilha e assimilação de saberes e sabores. Talvez por isso, a gastronomia local seja marcada por grande diversidade. Dos tempos idos, sobretudo, no contexto da labuta nos socalcos durienses, recorda-se a sopa de cebola ou de troncha, com feijão vermelho. A sardinha com broa, por vezes, acompanhada de batata cozida, o arroz de feijão, com pataniscas e o arroz de troncha com moira faziam as delicias das famílias mais abastadas. Por herança, o arroz de forno, com cabrito e batatas assadas, tripas e o rancho com grão de bico integram a gastronomia reguense e duriense. À sobremesa, o leite-creme é eleito por unanimidade. Os doces tradicionais foram surgindo, sendo, por isso, uma alternativa a considerar.


PRATOS TÍPICOS

ARROZ DE FORNO COM CABRITO ASSADO

O Anho Assado com Arroz de Forno é por excelência um “prato de festa”, desde tempos imemoriais, ganhando especial destaque nesta região entre o Douro e o Tâmega onde a pastorícia complementa a atividade agrícola. Encontrámo-lo por um lado, associado ao repasto que culmina o dia da vindima, sendo servido aos trabalhadores – não raras vezes vizinhos – de pequenas comunidades que se revezavam no espírito de entreajuda nas fainas agrícolas. Por outro lado, os casamentos, na ementa das “bodas”, contemplava obrigatoriamente o Anho Assado, que muitas vezes, ao invés de se perguntar a data do enlace, se interrogavam para quando o “Convite para o Anho” do matrimónio. A história do arroz de forno, típico desta região e que a confraria do Anho Assado com Arroz de Forno promove e defende tem uma particularidade. No tempo dos nossos antepassados, sabemos das dificuldades monetárias que se faziam passar por estas terras, terras estas também de barões e baronesas, de patrões e caseiros. Como era habitual, nos dias de festa, os caseiros preparavam o anho assado no forno para que pudessem degustar um belo manjar em família. No final da refeição, como pouco restava do anho, somente arroz, que também era delicioso, os caseiros encontraram uma forma de poder saborear o anho assado, colocando-o por cima da grelha, para que este ficasse a “pingar” os condimentos e o sabor do anho pelo arroz. Sabedores dos bons sabores, podiam degustar assim um arroz saboroso, com sabor a anho assado.

BAZULAQUE OU VERDE

Feito com “miúdos” de cabrito ou anho - em certos locais também pode levar os de galinha -, o Bazulaque é um guisado destas miudezas a que se adicionam enchidos e pão, resultando numa espécie de açorda. Em alternativa, o guisado é disposto sobre uma fatia de pão. Normalmente servido como entrada, é um prato de aproveitamento antigo, servido em dias de festa e celebração. Forte, consistente e muito saboroso, perfeito para reconfortar estes dias frios de inverno e um dos pratos mais típicos do Peso da Régua.

SOBREMESAS E DOCES TÍPICOS

LEITE CREME

Leite-Creme, um histórico entre as sobremesas!

Provavelmente tem algo que ver com o titilante contraste entre o frio e cremoso manjar com a crocante e quente camada de açucar queimado. Este prato deve ser preparado com cuidado, pois é muito fácil errarmos na sua confecção.
As primeiras receitas de leite-creme datam do século XVII. Se as suas origens remontam a França, Inglaterra (Crème brulée) ou mesmo Espanha (Crema Catalana), é pouco claro.

A primeira vez que se viu a receita de leite-creme foi num livro de Massaliot’s que data de 1691 em França. François Massaliot’s nasceu em Limoges em 1660 e morreu em 1733 em Paris. Ele preparou refeições para Monsieur Philippe, duque de Orleães, irmão de Luis XIV, Madame Princess Liselotte, mulher de Monsieur Philippe. Também preparou refeições para o Delfim (The Dauphin) e vários duques e marqueses. Desta forma é seguro dizer que foi um cozinheiro de sucesso.

No entanto o Trinity College de Cambridge, Inglaterra, também reclama como sua a origem do doce manjar. Eles defendem ser o primeiro produtor desta sobremesa no século XVII, onde o denominaram de “Cambridge Burnt Cream” ou “Trinity Cream” onde tinham um ferro de queimar o açucar especial, pois tinha o símbolo oficial do Trinity College.

Já nos tempos do Império Romano se conheciam as propriedades dos ovos. Eram muito bons em elaborar receitas baseadas em ovos. E pensa-se que o leite creme não tenha sido excepção. Desde então até aos nossos dias as receitas de leite-creme têm evoluído.

Hoje em dia as variedades de leite-creme existentes são infindáveis. E há mesmo quem afirme que há tantas receitas de leite-creme quantas as pessoas que o confeccionam. É um prato simples mas delicioso, que é mundialmente famoso e reconhecidamente bom.

Leite-Creme... Quem não gosta?

FALACHA

A falacha é um típico doce reguense cuja tradição de confecção se vai perdendo, já que o “segredo” não está a encontrar eco nas actuais gerações.

O doce é feito à base de farinha de castanha que, depois de devidamente amassada, se coloca numa folha de castanheiro e vai ao forno. Depois de cozida, polvilha-se com canela, ao gosto de cada um. Por opção, a farinha de castanha pode ser entremeada por pedaços de carne de porco.

RABELOS

Os rabelos são outro doce regional da cidade do Peso da Régua. Criados há quase dez anos por Cezília Teixeira, os rabelos satisfazem os paladares mais exigentes, principalmente quando acompanhados por um cálice de Vinho do Porto. Baptizados com o nome de rabelos, foram criados com o formato das embarcações típicas do Douro. Depois de confeccionados, são colocados em cada um o mastro e a vela.

Farinha de arroz, amido de milho, ovos, açúcar, canela, amêndoa e o imprescindível Vinho do Porto são os ingredientes da receita dos rabelos. O modo de preparação é um segredo que só as mãos da criadora conhecem. (C.M. Peso da Régua)

REQUEIJÃO

Em Portugal, este nome é dado a um tipo de queijo semelhante ao Ricotta italiano, sólido e normalmente com um sabor forte característico, mais salgado que a versão italiana.

Tudo começou através do leite, que já era um alimento utilizado pelo Homem para consumo próprio. Nas caves, devido às altas temperaturas que derivavam do fogo, as pessoas começaram a se aperceber de que o leite coalhava muito rapidamente. Assim, quando o leite solidificava e se escorria o líquido excedente, restava o alimento agora conhecido como requeijão.

Para terminar, a descoberta da enzima, originalmente extraída do estômago dos cabritos, dá azos ao processo de acidificação através de uma cultura bacteriana, que irá então transformar o leite na coalhada e no soro.

Hoje em dia, o queijo pode ser produzido através do leite de diversos mamíferos, como vacas, cabras e ovelhas e estes podem vir em quase todos os feitios e de tipos diferentes. Existe ainda a adição de especiarias, o uso de processos como a defumação e até a alimentação do animal que fornece o leite poderá determinar o sabor e a consistência do queijo.

Sendo este um produto transversal a todo o território português, denota-se uma forte presença nas regiões montanhosas e onde a prática da pastorícia é de grande relevo.

REBUÇADOS DA RÉGUA

“Olha o rebuçado da Régua, levem rebuçados da Régua!” Quem chega à Régua de comboio é saudado desta forma pelas Rebuçadeiras que de bata e lenço brancos vão vendendo rebuçados no largo e na estação da CP. Na década de 40, quatro moças de bata verde vendiam água em bilha, a 15 tostões; água em cantarinha, cada copo, a 2 tostões; bolachas e fruta e os já famosos Rebuçados da Régua, três pacotes, 5$00.

Os Rebuçados da Régua começaram por ser vendidos nas festas locais e das redondezas. Nessa altura, destacavam-se dois vendedores: o “Prosa” e o “Cândido Rebuçadeiro”. Actualmente, os Rebuçados fazem parte da identidade de Peso da Régua, elementos de uma tradição que se tem mantido viva ao longo das gerações. Cada Rebuçadeira confecciona os rebuçados de um modo muito próprio.

No entanto, para quem quiser aprender, aqui fica a sugestão: depois de o açúcar em ponto, com duas cascas de limão, ter passado para a pedra mármore, untada com margarina e daí para o plástico esticado da mesa, ainda a ferver, as mãos vão cortando os rebuçados um a um, rápida e habilmente, para depois os embrulhar em forma de laçarotes. (C.M. Peso da Régua)